HABITAÇÃO ESTUDANTIL LUÍS GAMA

HABITAÇÃO ESTUDANTIL LUÍS GAMA
Para os nagôs, o movimento do corpo está intimamente ligado a um processo coletivo
de rememoração. O corpo adquire atribuições mnemônicas que, como apresentado por Muniz Sodré, formam uma "simultaneidade significativa", trazendo ao presente uma ligação com um passado que a coletividade julga importante e que não deveria ser esquecido, por ser um ponto marcante e fundante no tempo. No caso da Guerra do Paraguai, a simbologia e a memória coletiva se manifestam na Praça General Osório e na Rua Voluntários da Pátria. Contudo, devido aos processos de simplificação e romantização da guerra, muitos dos soldados enviados ao front foram esquecidos; frequentemente eram escravos levados ao conflito de forma impositiva para lutar no lugar de seus senhores. 

A partir da compreensão desse fenômeno histórico, adotamos como conceito a busca pelo resgate da memória dos grupos esquecidos. O nosso partido, portanto, foi de enfoque na movimentação corporal a ser ensejada nas pessoas que passam no local, por meio de uma zona mais calma, com elevação da caixa da via para a mesmo nível do passeio, redução da largura da via, uso de blocos intertravados para gerar uma resposta tátil ao motorista, de modo a marcar um território de prioridade dos pedestres e, além disso, o uso de balizadores nas laterais da via, marcada por uma cor diferente da cor do pavimento do entorno e de tipos de calçamento distintos. O estímulo no movimento se dá também pela permeabilidade física entre a praça e a Rua Carlos de Carvalho, no térreo do lote que sofreu intervenção, contando com uma mini-praça ao centro do terreno, que poderia ser utilizada para venda de produtos das feiras de orgânicos da UFPR. Ainda procurando direcionar o olhar para os esquecidos, propomos uma habitação estudantil em honra de Luís Gama nas torres projetadas, contando com biblioteca e espaço de estudos, além de oferecer também atendimento psicológico universitário.

Em suas fachadas, a edificação conta com painéis de motivos geométricos nagôs, que funcionam como quebra-sóis e que conferem dinamismo ao edifício, dialogando também com os motivos geométricos do piso, de inspiração guarani. Já no espaço público, sugerimos a troca dos nomes das ruas para nomes de tribos indígenas que contribuíram na Guerra do Paraguai; a rua entre a praça e o lote seria chamada Kinikinaus, a Rua Cândido Lopes seria a Terenas e a Voluntários da Pátria passaria a ser Ejiwajegi.

Retomando a noção do movimento, haverá uma academia na habitação estudantil e a quadra poliesportivas na praça foram orientadas no sentido noroeste-sudeste, a fim de não ofuscar a visão dos usuários com a luz do sol leste ou oeste. Por fim, há uma remissão ao movimento, que o liga à memória, por meio de uma escultura inspirada no cavalgar do índio cavaleiro que lutou na Guerra do Paraguai, localizada paralela à Rua Ejiwajegi, mas mais ao centro da praça, devido à importância desses guerreiros durante o conflito.

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